Desdobramentos

PF aperta o cerco em Cacoal e apura fraude em consignados ligada ao SAAE

Operação mira contratos suspeitos dentro da autarquia e alcança nomes próximos ao ex-presidente Thiago Tezzari.


A manhã de Cacoal começou diferente quando equipes da Polícia Federal chegaram à cidade para cumprir mandados dentro de uma investigação que apura fraudes em empréstimos consignados ligados ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto. A apuração, que corre sob sigilo, busca entender como servidores e intermediários teriam montado um esquema para incluir contratos não autorizados na folha, alguns deles em nome de pessoas que sequer sabiam que estavam endividadas. O caso ganhou força depois que centenas de relatos começaram a chegar aos bancos e à própria autarquia, deixando um rastro de prejuízo e desconfiança.

No caminho dessa investigação aparece o nome do ex-presidente do SAAE, Thiago Tezzari, que ocupou o comando da autarquia justamente no período em que os primeiros indícios começaram a aparecer. A PF trabalha para entender se ele tinha conhecimento da movimentação ou se houve participação de pessoas ligadas à sua gestão, já que documentos internos apontam que parte das autorizações para consignados passava por setores sob sua responsabilidade direta. Mesmo sem apontar culpa antecipada, o nome de Tezzari voltou à cena porque várias decisões administrativas da época teriam facilitado a entrada de correspondentes bancários dentro do SAAE, abrindo espaço para operações que agora são tratadas como suspeitas.

O que os agentes querem mapear é a trilha de quem autorizava, quem executava e quem lucrava. Há relatos de servidores que descobriram descontos apenas quando o holerite já estava comprometido, situação que abriu uma sequência de denúncias. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, parte dos contratos estava vinculada a ampliadores de margem e refinanciamentos montados sem transparência, prática que costuma indicar uso indevido de dados funcionais.

Nos bastidores de Cacoal, a movimentação da PF se espalhou rápido. A cidade, acostumada ao ritmo do interior, logo viu circular o comentário de que a investigação poderia avançar para decisões tomadas na cúpula do SAAE. Não há confirmação oficial, mas o fato de a operação mirar justamente o período em que Tezzari comandava a autarquia alimenta a expectativa de que novos desdobramentos possam atingir figuras que até então estavam fora do radar público.

A Polícia Federal segue coletando depoimentos e cruzando documentos. O caso agora depende da análise técnica dos contratos e do caminho do dinheiro para definir quem serão os próximos a prestar esclarecimentos. No ritmo em que a investigação avança, Cacoal deve conviver ainda por algum tempo com a sombra desse esquema que derruba a confiança de quem apenas queria trabalhar e receber seu salário inteiro no fim do mês.